DIA 14 DE MARÇO: DIA DA POESIA
Texto: Belinha (autora do blog)
Dia 14 de março é o dia da poesia. Num mundo tão cheio de torpezas e aflições, o que seria de nós se não existisse esse pão da alma chamado poesia. Para além dos livros escolares, ela está em toda parte onde o ser humano se encontrar. Na música que nos toca, no diálogo bem feito de um filme, no cartão de congratulações que enviamos a uma pessoa querida, nos chiques discursos dos imortais das academias de letras e na boca do repentista que nunca frequentou a escola. Ela fala de tudo que nos cerca e de tudo que nossa mente é capaz de imaginar. Todos dias, em algum lugar do planeta, estará alguém debruçado sobre uma folha, um computador, um guardanapo de bar ou até mesmo diante de um muro ou tronco de árvore, vertendo palavras que saem do seu pensamento emocionado.
Muitos outros estarão estudando o fenômeno da poesia através de teorias e correntes críticas. Querem eles saber se a poesia nasce da inspiração ou do intelecto perseverante. Buscam entender a fonte de onde nasce a poesia, por que existe, por que perdura. Alheio ou não às exegeses de seus poemas, o poeta liberta sentimentos próprios ou inventados e constrói uma floresta de signos que nos convida a SENTIR a existência das coisas. Passamos pelas coisas, sem senti-las. Vemos tudo com os olhos embaçados pela pressa, pelo cansaço e pela influência das concepções nos foram ensinadas no decurso de nossa vida. A poesia breca nosso piloto automático do olhar através de palavras que gingam entre si, provocando em nós uma sensação boa e estranha, que Sartre denominou de “alegre estranhamento”.
Como explicar o prazer que nos provoca uma metáfora, célula da poesia? A poetisa Arlete Nogueira, em seu poema “Litania da velha” nos arremessa num turbilhão de pensamentos quando, ao descrever uma idosa solitária, metaforiza: “ A velha mastiga a espera”. Imaginamos uma espera longuíssima, penosa, sofrível, um cenário de abandono atroz. Ela nos leva ao auge da compunção quando diz: “Os chinelos falidos arrastam desejos frustrados”. Usando a personificação, Arlete “dá vida” aos chinelos, pois estão lá, arrastando desejos frustrados. Mas sabemos que pelo processo metonímico, os chinelos representam a velha e o fato de estarem falidos revelam seu desamparo, seu estado deplorável. Sentimos a dor da velha, por ela e com ela. O choque trazido pelas palavras nos comove mais do que ao ver uma mendiga na rua ou no noticiário de televisão. É uma comoção que termina quando acabamos de ler o poema, ou não. Mas a maneira como a linguagem foi usada provoca um abalo brusco nos nossos sentidos. O poeta usa a força impetuosa das palavras para nos tirar do natural entorpecimento em que estamos imersos. Para isso, ele nem precisa usar palavras complicadas, basta permitir que sua sensibilidade alcance voo o delicado das borboletas ou o trote selvagem do corcel. O dia 14 de março nos faz pensar que um robô jamais fará poesia, no máximo, poderá criar rimas e transmitir noções de metrificação. A poesia é algo extremamente humano, pois reside no solo de nossa alma, mesmo que muitos de nós não tenhamos essa habilidade de transfigurar nossos sentidos em palavras poéticas. Ela sempre vai existir, pois precisamos dela para deixar sangrar nossa dor, para explodir nosso prazer ou simplesmente para provar que estar vivo não basta: precisamos sonhar.
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