quinta-feira, 21 de abril de 2011

MÁRIO QUINTANA


Por: Belinha

Dono de uma poesia marcada por uma aparente simplicidade, Mário Quintana fez poemas que encantam pela delicadeza das metáforas  (os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde) ou pelo deboche (  Mas se a vida é tão curta como dizes porque que é que me estás lendo até agora?).

O poder de síntese da poesia encontra uma de suas melhores expressões em Mário Quintana. Com apenas um verso, ele dava conta de seu recado poético:

O pior
O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

Nem a morte escapou de sua cômica ironia:
Libertação   

A morte é a libertação total:
A morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapato

O conteúdo de seus poemas destilam uma sabedoria proverbial:
Da discrição    
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...


Usa indagações como modo indireto de afirmar o trágico da vida:

Exame de consciência    
Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?
A natureza comparece em sua poesia como parte de seu processo de interiorização:

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...


O amor pela poesia é registrado em muitos poemas metalinguísticos:

....basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira. (...)


Sua poética confessional é uma forma de exprimir a beleza das pequenas coisas que passam despercebidas pelo olhar da maioria:

“Eu comecei a escrever desde que comecei a me entender por gente. A poesia não deixa de ser uma forma de falar sozinho, porque havia assuntos que eu não podia meter em conversa. Coisas que me impressionavam, como uma nuança no muro; o reflexo dos lampiões, de noite, nas poças d’água; uma nuvenzinha que tinha ficado parada lá no céu perdida das outras; coisas assim. Isso eu não podia falar numa conversa, porque iam pensar que eu estava maluco. Esse é o assunto dos meus poemas.” ( entrevista a Patrícia Bins)

Para ele, o poema tinha que ter música, sonoridade, por isso definiu uma floresta como “um dédalo de dedos”.

Também não procurava fazer da poesia um veículo sério de combate a ideologias ou um panfleto de novas ideias, muito ao contrário, a não obrigatoriedade de uma função para a poesia a tornava mais especial: “

O trágico dilema

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

Em Quintana, não há nenhum apego à religiosidade. Sua religião era o sonho, a capacidade de viajar na imaginação:

Da inquieta esperança

Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dê o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório.

Uma poesia contra arroubos sentimentais, a favor da discrição, da moderação, sempre contra o espalhafatoso, porém, sem prejuízo de uma intensidade íntima:

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana no vestibular: Vestibular da PUCRS 2011

INSTRUÇÃO: Para responder à questão 40, ler o poema “Magias”, de Mário Quintana, e as afirmativas.

Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar por longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fitam, obstinados.
Porque eles nunca se desumanizam de todo.
Jamais te voltes para trás de repente:
Poderias pegá-los em flagrante.
Não, não olhes nunca!
O melhor é cantares cantigas loucas e sem fim...
Sem fim e sem sentido...
Dessas que a gente inventava para enganar a solidão
[dos caminhos sem lua.

Neste poema, os retratos antigos

I. buscam uma espécie de diálogo com o observador,
porque nunca perdem a sua humanidade.
II. mesmo pendurados na parede, parecem ter vida
própria.
III. simbolizam um passado fantasmagórico que pode
continuar aterrorizando, por isso devem ser olhados
com cautela.
40) A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são:
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, II e III.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

POLISSEMIA

POLISSEMIA E AMBIGUIDADE NA CONSTRUÇÃO DOS TEXTOS


TEXTO 1: Amor ou Ódio???

Satânico é meu pensamento a teu respeito e ardente é o meu desejo de
apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que
me fizeste ontem.
A noite quente e calma chegara a ser angustiosa.
Apareceste e, nesta cama, aconteceu...
Sorrateiramente te aproximaste...
Sem o mínimo de pudor... Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu.
Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e
mordeste-me sem escrúpulos até os mais íntimos lugares jamais tocados
de meu casto corpo.
E adormeci...
Hoje, quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão...
Deixaste
provas irrefutáveis do que ocorreu na noite que passou.
Grandes manchas no meu corpo e o alvo lençol salpicado de sangue...
Esta noite recolho-me mais cedo para, na mesma cama, te esperar.
Oh! Quando chegares, nem quero pensar com que perspicácia, avidez e
força eu quero te pegar para que não escapes mais de mim.
Em minhas mãos quero apertar-te até o fim.
Não haverá parte do teu corpo que os meus dedos não passarão.
Só descansarei quando ver sair o sangue quente de teu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pulga maldita.

( Não conheço o autor)

O texto conduz o leitor a imaginar tratar-se de uma relação entre duas pessoas, quando, na verdade, apenas fala de uma pulga. Após a leitura, percebe-se que os verbos escolhidos possibilitam a polissemia:

Apareceste e, nesta cama, aconteceu...
Aconteceu = fazer amor
Aconteceu = algo ocorreu
Em minhas mãos quero apertar-te até o fim.
Apertar-te = abraçar
Apertar-te = sufocar, esmagar


Observe agora no texto abaixo, como a polissemia da palavra “aquilo” foi usada para gerar a ambiguidade textual.

Texto 2:       Aquilo - Luís Fernando Veríssimo

— De uns tempos para cá, eu só penso naquilo.
— Eu penso naquilo desde os meus, sei lá, 11 anos.
— Onze anos?
— É. E o tempo todo.
— Não. Eu, antigamente, pensava pouco naquilo. Era uma coisa que não me preocupava. Claro que a gente convivia com aquilo desde cedo. Via acontecer à nossa volta, não podia ignorar. Mas não era, assim, uma preocupação constante. Como agora.
— Pra mim sempre foi. Aliás, eu não penso em outra coisa.
— Desde criança?!
— De dia e de noite.
— E como é que você conseguia viver com isso, desde criança?
— Mas é uma coisa natural. Acho que todo mundo é assim. Você é que é anormal, se só começou a pensar naquilo nessa idade.
— Antes eu pensava, mas hoje é uma obsessão. Fico imaginando como
será. O que eu vou sentir. Como será o depois.
— Você se preocupa demais. Precisa relaxar. A coisa tem que acontecer
naturalmente. Se você fica ansioso é pior. Aí sim, aquilo se torna uma angústia, em vez de um prazer.
— Um prazer? Aquilo?
— Pra você não sei. Pra mim, é o maior prazer que um homem pode ter.
É quando o homem chega ao paraíso.
— Bom, se você acredita nisso, então pode pensar naquilo como um prazer. Pra mim é o fim.
— Você precisa de ajuda, rapaz.
— Ajuda religiosa? Perdi a fé há muito tempo. Da última vez que falei com um padre a respeito, só o que ele me disse foi que eu devia rezar. Rezar muito, para poder enfrentar aquilo sem medo.
— Mas você foi procurar logo um padre? Precisa de ajuda psiquiátrica.
Talvez clínica, não sei. Ter pavor daquilo não é saudável.
— E eu não sei? Eu queria ser como você. Viver com a perspectiva
daquilo naturalmente, até alegremente. Ir para aquilo assoviando.
— Ah, vou. Assoviando e dando pulinho. Olhe, já sei o que eu vou fazer. Vou apresentar você a uma amiga minha. Ela vai tirar todo o seu medo.
— Sei. Uma dessas transcendentalistas.
— Não, é daqui mesmo. Codinome Neca. Com ela é tiro e queda. Figurativamente falando, claro.
— Hein?
— O quê?
— Do que é que nós estamos falando?
— Do que é que você está falando?
— Daquilo. Da morte.
— Ah.
— E você?
— Esquece.

Veja um exemplo de polissemia num teste de racismo:

Num galinheiro havia 30 galinhas.
Um negão levou 10 galinhas.
Quantas galinhas ficaram no galinheiro?

Resultado:
Se você respondeu 20 galinhas: você é racista.
Se você respondeu 40 galinhas: parabéns!
Se havia 30 e o negão levou (mais) 10, ficaram 40 galinhas.

O teste levou em conta que verbo levar pode ser entendido de duas formas: levar como furtar ( para o “racista”) ou levar como dar algo.

O verbo “levar” possui muitos outros sentidos. O dicionário Houaiss eletrônico registra alguns:
a)      carregar consigo: sempre levava seus documentos na carteira.
b)      Afastar de um local: levou dali o desordeiro.
c)      Vestir: levava um roupão de seda sobre o pijama.
d)     Ser alvo de um castigo: se esse menino não ficar quieto, acaba levando.
e)      Ter na memória: levava saudades ao partir.
f)       Carregar o peso, aguentar: levou toda a responsabilidade do erro.
g)      Demorar: levou horas para se vestir.
h)      Considerar: leva tudo na brincadeira.
i)        Receber: levou uma quantia enorme naquela transação.
j)        Conter: é necessário que o documento leve a assinatura do diretor.
k)      Matar: a bebida o levou.
l)        Servir de meio de transporte: o aqueduto levava água à cidade.
m)    Entregar algo: levou-lhe boas notícias.
n)      Apresentar, exibir: o Teatro Municipal vai levar O Auto de Mofina Mendes.
o)      Viver: levava a vida de um rei.


" O bom leitor lê sentidos. Quanto mais a criança se apegar ao sentido, melhor leitora ela será." (Marina Colasanti)

terça-feira, 12 de abril de 2011

REVISÃO: CLASSES GRAMATICAIS


Leia o texto abaixo e informe a classe gramatical das palavras grifadas.

DEUS EXISTE

João era dono de uma bem sucedida farmácia numa cidade do interior. Era um homem bastante inteligente, mas não acreditava na existência de Deus ou de qualquer outra coisa além do seu mundo material.Um certo dia, estava ele fechando a farmácia,quando chegou uma criança aos prantos,dizendo que sua mãe estava passando mal e que se ela não tomasse o remédio logo iria morrer.
Muito irritado, e após a insistência da criança, resolveu reabrir a farmácia para pegar o remédio.
Sua insensibilidade perante aquele momento era tal, que acabou pegando o remédio mesmo no escuro e entregando à criança, que agradeceu e saiu dali às pressas.
Dois minutos depois, percebeu que havia entregado o remédio errado para a criança, e que se a mãe dela o tomasse teria morte instantânea.
Desesperado, tentou alcançar a criança, mas não teve êxito.
Sem saber o que fazer e com a consciência pesada, ajoelhou-se e começou a chorar e a dizer que se realmente existisse Deus, que não o deixasse passar por assassino.
De repente, sentiu alguém tocar-lhe o ombro esquerdo e ao virar deparou-se com a criança a dizer:
__Oh, senhor, por favor não brigue comigo, mas é que caí e quebrei o vidro do remédio, dá pro senhor me dar outro?
Sabe...ELE está sempre nos ajudando, nós é que não percebemos isso..

Autor desconhecido
Proposta de atividade: Belinha



RESPOSTAS:

João: substantivo
Farmácia: substantivo
Um: artigo
Bastante: advérbio
Inteligente: adjetivo
Mas: conjunção
Deus: substantivo
Mal: advérbio
Remédio: substantivo
Logo: advérbio
Morrer: verbo
Irritado: adjetivo
Insensibilidade: substantivo
Dois: numeral
Depois: advérbio
Errado: adjetivo
Para: preposição
Morte: substantivo
Instantânea: adjetivo
Desesperado: adjetivo
Êxito: substantivo
Com: preposição
Por: preposição
Alguém: pronome
Ombro: substantivo
Senhor:pronome
Comigo: pronome
Ele: pronome
Sempre: advérbio
não: advérbio
Isso: pronome


segunda-feira, 11 de abril de 2011

A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ADVOGADO

O texto abaixo, inserido na Academia Brasileira de Direito em 30 de maio de 2006, é uma reflexão sobre a importância da Língua da Portuguesa no trabalho do advogado.    

A Importância da Língua Portuguesa ao Advogado
 
Autoria: Joseval Viana
 
Estou preocupado com o pouco conhecimento que alguns advogados têm da Língua Portuguesa. O que mais me deixa apreensivo é que a cada ano isso piora, porque os advogados se preocupam em ampliar seus conhecimentos jurídicos (o que é excelente), mas deixam de estudar a Língua Portuguesa. E tem mais: alguns têm a pretensão de que são verdadeiros “peritos” no assunto. O resultado disso é catastrófico.
Tradicionalmente, o advogado é conhecido pela sua capacidade de falar e escrever bem, mas o que se vê no quotidiano é profundamente diferente. Quase enfartei, quando corrigia uma petição inicial de um aluno, advogado atuante na área cível, quando li “hall” de testemunhas. Não é brincadeira! É profundamente sério. O que mais me admirou foi que ele passou os cinco anos na universidade ouvindo a palavra “rol” e nunca se deu a oportunidade de consultar um bom dicionário para saber como aquela palavra deveria ser escrita.
Implico também com a expressão “ocorre que”, porque ela não tem objetividade redacional na formulação da peça processual. Os professores de Língua Portuguesa chamamos isso de “muleta redacional”. Observe este exemplo: “Ocorre que o autor ajuizou ação judicial em face do réu com o objetivo de ser ressarcido por perdas e danos”. Retire a expressão “ocorre que” e nada vai alterar a oração; ao contrário, ela terá um aspecto redacional melhor: “O autor ajuizou demanda em face do réu com o objetivo de ser ressarcido por perdas e danos.”
Quero descobrir também quem inventou o verbo “elencar”. Isso mesmo, quem inventou o verbo “elencar”, porque este verbo não existe na Língua Portuguesa. Na verdade, existe o substantivo “elenco”, mas não o verbo “elencar”. Este verbo é usado incorretamente em orações desta natureza: “Os requisitos da petição inicial estão elencados no art. 282 do CPC”. O advogado deve substituir este verbo por “enumerar”, “indicar”. Leia atentamente a oração: “Os requisitos da petição inicial estão enumerados no art. 282 do CPC”.
Esses são apenas alguns dos erros gramaticais encontrados nas petições iniciais. Fico absorto, porque quase ninguém está preocupado com o desconhecimento que alguns advogados têm da Língua Portuguesa.
Conhecer ortografia, acentuação, pontuação, crase, regências nominal e verbal, concordâncias nominal e verbal e outras regras gramaticais tornam a petição inicial mais clara, mais inteligível. A coesão e a coerência não são apenas elementos redacionais que permitem ao advogado escrever bem. A gramática também ajuda muito na hora de redigir as petições iniciais.
Quem não sabe escrever corretamente, não tem capacidade de expressar adequadamente o seu pensamento. A Língua Portuguesa é um instrumento eficaz que visa a auxiliar o advogado na comunicação.
Lembro-me quando um aluno (advogado também formado) procurou-me desesperado, porque se equivocou com a palavra “remição”. Ele atua no Direito Tributário e, em dada ocasião, o Governo perdoou a dívida de alguns empresários, e algumas ações judiciais que estavam em curso seriam extintas. O advogado elaborou uma simples petição para requerer a “remição” da dívida e a extinção do feito.
Dias depois, o juiz exarou o seguinte despacho: “Visto que o requerido deseja pagar a dívida, pague-a no prazo de 24 (vinte) quatro horas sob pena de execução”. O meu aluno ficou inconformado com a decisão interlocutória do juiz. Queria interpor agravo de instrumento a qualquer custo. Também não entendi o motivo do “inconformismo”, porque foi ele quem requereu ao juiz o pagamento da dívida. Remição significa quitação, resgate, pagamento. Na verdade, ele deveria ter requerido “remissão” que significa “perdão de uma dívida”. Meu aluno, então, resolveu estudar um pouco de gramática. Melhor assim. Agravo de instrumento não corrige erro gramatical.
Por que esses erros gramaticais são comuns nas petições? Porque os advogados não estudam mais a Língua Portuguesa; estudam apenas os livros jurídicos e pensam que eles ensinam gramática.
Por isso, para resolver este problema, o jeito é pegar um bom livro de Língua Portuguesa e estudar gramática.


VIANA, Joseval Martins . A importância da língua portuguesa para o advogado. Disponível em <http://www.abdir.com.br/doutrina/ver.asp?art_id=&categoria= Linguagem Forense >  Acesso em :11 de abril de 2011.

domingo, 10 de abril de 2011

SINÔNIMOS


"Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor."

Mário Quintana

 “Boticário. A vida é bonita, mas pode ser linda”.           (comercial)

Bonito: 1. possuidor de beleza, agradável aos olhos. 2. conceitualmente agradável.
Sinônimos: belo. Lindo. Maravilhoso. Estonteante.
Fonte: Wikcionário

No comercial veiculado pelo Boticário, percebemos que as palavras “bonita” e “linda”, mesmo possuindo um significado próximo, apresentam diferentes matizes semânticos. Dizer que a vida é linda é mais que considerá-la simplesmente bonita. Mário Quintana, como poeta, percebia a textura e colorido das palavras, por isso via o léxico como uma espécie de aquarela na qual cada palavra carrega uma tonalidade única. Matoso Câmara confirma essa ideia, pois segundo ele, é impossível encontrar dois sinônimos perfeitos, isto é, duas palavras que tenham uma equivalência exata de significados. Alguns sinônimos, inclusive, apresentam sentido pejorativo, como por exemplo, a palavra “lerdo” em substituição a “lento”.
Para efeito gramatical, no entanto, consideramos como sinônimas as palavras de significados semelhantes que podem ser substituídas no contexto de uma frase sem alteração de sentido.

O rapaz está enfermo. O rapaz está doente.
A substituição de “enfermo” por “doente” não altera o sentido da frase. São portanto, palavras sinônimas. O sinônimo menos utilizado pelos usuários da língua pode ficar arcaizado. 

Observações:
  • “ É quase um truísmo que a sinonímia total é ocorrência extremamente rara, um luxo a que a linguagem dificilmente se dá” ( Ullmann, 1957, 108 ).
  • Palavras realmente equivalentes, como “mexerica” e “tangerina”, são escolhidas de acordo questões geográficas e sociais.
  • A sinonímia é um mecanismo de coesão lexical. Não é recomendável repetir o mesmo signo muitas vezes no mesmo texto. Daí a importância de ampliar o vocabulário, conhecendo os sinônimos das palavras.
  • Os sinônimos às vezes são usados para minimizar o significado negativo de uma palavra. Essa figura é chamada de eufemismo. Exemplo: a palavra “falecimento” ou “óbito” no lugar da palavra “morte”.

Veja uma lista de palavras de significados semelhantes:

Defender                   proteger
Déficit                        falta
Dependente               subordinado
Depreciar                  desvalorizar
Derradeiro                 último
Desamparar               desproteger
Desagradar                descontentar
Desastre                     acidente
Desbotar                    empalidecer
Descida                      declive
Desconhecido             ignorado
Desculpar                   perdoar
Desgraça                     infelicidade
Desleixo                     negligência
Desletrado                  analfabeto
Desmedido                 enorme
Desnortear                  perturbar
Desnecessário            dispensável
Desobedecer              transgredir
Desordem                  confusão
Destruir                      arruinar
Desventura                 infelicidade
Desviado                    afastado
Detestar                     odiar
Dianteira                     frente
Dificultar                    complicar
Dilapidar                    gastar
Elementar                   essencial
Embrulhar                   empacotar
Emporcalhar               sujar
Encantar                     fascinar
Encanto                      feitiço
Encher                        abarrotar
Enfurecer                    enraivecer
Enorme                       imenso
Enrubescer                 corar
Entrar                         ingressar
Entregar                     dar
Enxuto                        seco
Equidade                    igualdade
Engano                       erro
Escassez                     falta
Escravo                      servo
Escuro                        sombrio
Escusar                       desculpar
Espesso                      denso
Esquerdo                    canhoto
Estima                         consideração
Exasperar                    irritar
Fadiga                         cansaço
Famoso                       célebre
Fingido                        falso
Firme                          seguro
Formoso                     bonito
Frequência                  assiduidade
Frouxo                        mole
Funesto                       sinistro
Futuro                         porvir
Ganhar                       adquirir
Glória                         grandeza
Gordura                      banha
Grato                         agradecido
Hábil                          capaz
Hesitação                   dúvida
Humilhar                    rebaixar
Ilógico                        absurdo
Imergir                       mergulhar
Imparcial                    neutro
Impávido                    intrépido
Imperecível                eterno
Impremeditado           mpensado
Imprevidência            descuido
Improbidade              desonestidade
Improdutivo               estéril
Imundície                   sujeira
Inacabado                 incompleto
Inatividade                 inércia
Inautêntico                 falso
Incerto                      duvidoso
Incontinente               imoderado
Incrédulo                   cético
Infectar                      contaminar
Infidelidade                deslealdade
Ininterrupto                contínuo
Injustiça                     tirania
Interesseiro               egoísta
Intencional                 propositado
Intimidar                    assustar
Invalidar                    anular
Medroso                    temeroso
Rápido                       ligeiro
Reminiscência            lembrança
Resgatar                    recuperar
Triste                         melancólico


sábado, 9 de abril de 2011

FRASES CLARICEANAS

Clarice Lispector

Selecionei pessoalmente algumas das mais marcantes frases da obra Clarice Lispector. Escolha também suas frases preferidas e abandone-se ao universo de Clarice.

Frases do livro “Um sopro de vida” ou “Pulsações”

  • Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. (pág. 11)

  • Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever. (pág. 15)

  • Vida não tem adjetivo. (pág. 19)

  • O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio.  (pág. 31)

  • Eu sou oblíqua como o voo dos pássaros. (pág. 34)

  • Para escrever eu antes me despojo das palavras. Prefiro as palavras pobres.(pág. 39)

  • Quando chover quero que caia sobre mim, abundantemente. Abrirei a janela de meu quarto e receberei nua a água do céu.  (51)

  • O futuro é um pássaro que ainda não se realizou. (pág. 50)

  • A mais bela música do mundo é o silêncio interestrelar. (pág. 64)

  • O que me mata é o cotidiano. Eu queria só exceções. Estou perdida: eu não tenho hábitos. (pág. 66)

  • Sou um mendigo de barba cheia de piolhos sentado na calçada da rua chorando.  (pág. 89)

  • A palavra é um dejeto do pensamento. Cintila. (pág. 93)

  • Cada livro é sangue, é pus, é excremento, é coração retalhado, e nervos fragmentados, é choque elétrico, e sangue coagulado escorrendo como lava fervendo pela montanha abaixo. (pág. 93)

  • Me coisificam quando me chama de escritor. Nunca fui e nunca serei. Recuso-me a ter papel de escriba no mundo. (pág. 94)

  • Escrever __ eu arranco as coisas de mim aos pedaços como o arpão fisga a baleia e lhe estraçalha a carne... (pág. 99)

  • A morte é o perigo constante da vida. (pág. 157)

  • ...O perigo é o que torna preciosa a vida (pág. 157)

  • Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo pois há segredos que eu não conto nem a mim mesma. (pág. 158)

  • A manhã é uma flor prematura. (pág. 160)

  • Era um dia um homem que andou, andou e andou e parou e bebeu água gelada de uma fonte. Então sentou-se numa pedra e repousou o seu cajado. Esse homem era eu. E Deus estava em paz. (pág. 161)

  • Cada livro é uma viagem. Só que é uma viagem de olhos vendados em mares nunca dantes navegados __ a mordaça nos olhos, o terror da escuridão é total.  (pág. 15)

  • Viver é um ato que não premeditei. Brotei das trevas. (pág. 34)

  • Eu sou um ser privilegiado porque sou a única no mundo. Eu enovelada de eu. (pág. 47)

  • O milagre é o riquíssimo girassol se explodir de caule, corola e raiz __ e ser apenas uma semente. (pág. 47)

  • O silêncio não é o vazio, é a plenitude. (pág. 53)

  • A diferença entre o doido e o não-doido é que não-doido não diz nem faz as coisas que pensa. (pág. 52)

  • Mentira também é uma verdade, só que sonsa e meio nervosa. (pág. 61)

Frases do livro A paixão segundo G.H

  • Eu sou mansa mas minha função de viver é feroz. (pág. 112)

  • Provação: significa que a vida está me provando. Mas provação: significa que eu também estou provando. E provar pode se transformar numa sede cada vez mais insaciável. (pág. 125)

  • Eu procurava o mais orgíaco de mim mesma. (pág. 123)


Frases do livro Água viva

  • Quero captar o meu é.  (pág. 10)

  • Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios. (pág. 22)

  • Não é um recado de ideias que te transmito e sim uma instintiva volúpia daquilo que está escondido na natureza e que adivinho. (pág. 24)

  • O meu principal está sempre escondido. Sou implícita. E quando vou me explicitar perco a úmida intimidade. (pág. 25)

  • Escrevo-te porque não me entendo. (pág. 28)

  • Mas a palavra mais importante da língua tem uma única letra: é. É. (pág. 28)

  • A prece profunda é uma meditação sobre o nada. (pág. 31)

  • Sou um coração batendo no mundo. (pág. 37)

  • Que estou fazendo ao te escrever? Estou tentando fotografar o perfume. (pág. 55)

  • Ah viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não para, viver parece ter sono e não poder dormir __ viver é incômodo. Não se pode andar nu nem de corpo nem de espírito. (pág. 96)

  • Tudo acaba mas o que eu te escrevo continua. (pág. 96)

  • Caminho segurando um guarda-chuva aberto sobre corda tensa. Caminho até o limite do meu sonho grande. (pág. 29)

  • Não gosto quando pingam lima nas minhas profundezas e fazem com que eu me contorça toda. (pág. 31)

  • Sou caleidoscópica; fascinam-me as minhas mutações faiscantes eu aqui caleidoscopicamente registro. (pág. 34)

  • Eis que te faço perguntas e muitas estas serão. Porque sou uma pergunta. (pág. 40)

  • Estou sentindo o martírio de uma inoportuna sensualidade. De madrugada acordo cheia de frutos. (pág. 39)


Frases de Perto do coração selvagem

  • ...de qualquer luta ou descanso acordarei forte e bela como um cavalo novo. (pág. 202)

  • O mistério explica mais que a claridade. (pág. 188)

REFERÊNCIAS

LISPECTOR, Clarice. Água viva. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1980.

LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. 10. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986

LISPECTOR, Clarice. Perto do Coração Selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

LISPECTOR, Clarice. Um sopro de Vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.



POEMAS EM HOMENAGEM À CLARICE LISPECTOR

Ferreira Gullar fez o poema abaixo em homenagem à Clarice Lispector, quando ela faleceu.

Enquanto te enterravam no cemitério judeu
do Caju
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós
("Na Vertigem do Dia", do livro "Toda Poesia", de 1980)

Veja o depoimento do poeta:

"Esse poema foi escrito no em dia que Clarice morreu. Estava em casa, me preparando para viajar para São Paulo, quando tocou o telefone, dizendo que ela tinha acabado de morrer. Fiquei chocado porque tinha tentado ir visitá-la no hospital. E ela me mandara um recado para que eu aguardasse e voltasse depois. Achei estranho porque a informação era a de que era duvidoso que ela voltasse para casa, já que seu estado era grave. Pouco depois, recebi a notícia de sua morte. O carro que me pegou para levar ao aeroporto foi pela lagoa Rodrigo de Freitas. Estava um dia lindo: sol e árvores balançando com a brisa. Achei chocante, um contraste. Eu triste com a morte dela e a natureza pouco ligando. (ri) O poema é isto: enquanto morremos, a natureza não tem nada a ver conosco. Ela está na dela."                  

( Revista Bravo; outubro de 2010)

Poema de Carlos Drummond de Andrade para Clarice Lispector:

Visão de Clarice Lispector
Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.
Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
onde a palavra parece encontrar
sua razão de ser, e retratar o homem.
O que Clarice disse, o que Clarice
viveu por nós em forma de história
em forma de sonho de história
em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata
ou um anjo?)
não sabemos repetir nem inventar.
São coisas, são jóias particulares de Clarice
que usamos de empréstimo, ela dona de tudo.
Clarice não foi um lugar-comum,
carteira de identidade, retrato.
De Chirico a pintou? Pois sim.
O mais puro retrato de Clarice
só se pode encontrá-lo atrás da nuvem
que o avião cortou, não se percebe mais.
De Clarice guardamos gestos. Gestos,
tentativas de Clarice sair de Clarice
para ser igual a nós todos
em cortesia, cuidados, providências.
Clarice não saiu, mesmo sorrindo.
Dentro dela
o que havia de salões, escadarias,
tetos fosforescentes, longas estepes,
zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,
formava um país, o país onde Clarice
vivia, só e ardente, construindo fábulas.
Não podíamos reter Clarice em nosso chão
salpicado de compromissos. Os papéis,
os cumprimentos falavam em agora,
edições, possíveis coquetéis
à beira do abismo.
Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.
Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia... saberemos amar Clarice.
Carlos Drummond de Andrade.