Álvares de Azevedo
“Sou o sonho de tua esperança. / Tua febre que nunca descansa, / O delírio que te há de matar!”, esses versos pertencem a Manuel Antônio Álvares de Azevedo. Ele nasceu em São Paulo no dia 12 de setembro de 1831, filho de advogado Ignácio Manuel e de Maria Luísa. Quando o pai diplomou-se, levou a família para morar no Rio de Janeiro. Aos três anos, Álvares deparou-se com a primeira morte na família: o irmãozinho. O bebê que ele tentava em vão despertar fê-lo cair em lágrimas quando sua mãe explicou-lhe que um anjinho o levara. O abalo levou o futuro poeta adoecer de “febre nervosa”, como era chamado os distúrbios psiquiátricos na época. Mais tarde, Álvares contrairia tuberculose e o resto de sua vida Álvares ficaria com saúde fragilizada. Por ser um menino adoentado, sua educação escolar foi ministrada até os nove anos de idade com professores particulares em sua própria casa. A partir dessa idade foi matriculado em regime de internato, no Colégio Stoll, cujo proprietário era o francês Monsieur Stoll. Como estudante era considerado brilhante, o primeiro da escola. Só não fazia sucesso em ginástica. Também estudou no Colégio D. Pedro II, onde foi aluno de Gonçalves de Magalhães, o introdutor do Romantismo no Brasil. Para dar continuidade à formação estudantil, Maneco, como era conhecido, foi sozinho para São Paulo cursar Direito na Faculdade do Largo de São Francisco. Na Faculdade, tornou-se amigo íntimo de Bernardo Guimarães e vários poetas. Uns dizem que sua vida nesse período foi tumultuada e boêmia e outros dizem que ela foi tranquila. Sua participação na Sociedade Epicureia, uma sociedade satanista secreta que promovia orgias, é algo contestado por seus biógrafos.
No quinto ano da faculdade, Álvares estava passando férias no Rio de Janeiro, quando confessou a um primo que todo ano morria um aluno do quinto ano da faculdade e ele achava que talvez pudesse ser o próximo. Não muitos dias após essa confissão, ele sofreu uma queda de um cavalo e fraturou a ilíaca a ponto de desenvolver um tumor que precisava ser retirado. Não existia anestesia na época e Maneco sobreviveu 45 dias até morrer nos braços de um dos irmãos em 25 de abril de 1852, num domingo de páscoa.
A debilidade do organismo, a introspecção, a experiência da morte do irmão e de amigos da faculdade, além da forte influência do inglês Lord Byron e Musset em sua obra, tudo isso fez com que a morte fosse um tema obsessivo, constando, inclusive, nas cartas que escrevia para a mãe e para a irmã. A morte se tornou uma forma de fugir da realidade conturbada e do sentimento de impotência diante da vida. Ele se tornou, então o poeta mais representativo do spleen ou mal-do-século, estado de espírito depressivo dos poetas ultrarromânticos. Foi ele quem proferiu as orações fúnebres no enterro de dois de seus amigos.
O desejo do amor é outra temática constante. Um amor sempre idealizado, no qual a mulher é uma virgem apenas desejada de longe, um anjo por quem o poeta suspira por viver e morrer. Apesar de seus versos tristes e mórbidos, ele ajudou a introduziu o humorismo na poesia brasileira, utilizando-se da ironia como recurso literário:
A lagartixa ao Sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida
Tu és o Sol e eu sou a lagartixa.
O patriotismo e saudade da infância também fazem parte da sua veia sentimental. Suas obras foram publicada após sua morte, pois em vida só havia publicado discursos e elogios a amigos falecidos no jornal da academia. O poeta também escreveu contos fantásticos (Noite na Taberna) e peça teatral (Macário) é o patrono da cadeira de número dois da Academia Brasileira de Letras.
ATIVIDADES SOBRE A POÉTICA DE ÁLVARES DE AZEVEDO
01. Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei...que nunca
Aos lábios me encostou a face linda! (Álvares de Azevedo)
A característica do Romantismo mais evidente nesta quadra é:
a) o espiritualismo
b) o pessimismo
c) a idealização da mulher
d) o confessionalismo
e) a presença do sonho
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei...que nunca
Aos lábios me encostou a face linda! (Álvares de Azevedo)
A característica do Romantismo mais evidente nesta quadra é:
a) o espiritualismo
b) o pessimismo
c) a idealização da mulher
d) o confessionalismo
e) a presença do sonho
02. Minh’alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
A estrofe apresentada revela uma situação caracteristicamente romântica. Aponte-a.
a) A natureza agride o poeta: neste mundo, não há amparo para os desenganos morosos.
b) A beleza do mundo não é suficiente para migrar a solidão do poeta.
c) O poeta atribui ao mundo exterior estados de espírito que o envolvem.
d) A morte, impregnando todos os seres e coisas, tira do poeta a alegria de viver.
e) O poeta recusa valer-se da natureza, que só lhe traz a sensação da morte.
3. (FUVEST)
Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno-me vaporoso... e só de ver-te
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono. (Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos)
Neste excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa atitude do eu-lírico manifesta a:
(A) ironia romântica.
(B) tendência romântica ao misticismo.
(C) melancolia romântica.
(D) aversão dos românticos à natureza.
(E) fuga romântica para o sonho.
Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno-me vaporoso... e só de ver-te
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono. (Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos)
Neste excerto, o eu-lírico parece aderir com intensidade aos temas de que fala, mas revela, de imediato, desinteresse e tédio. Essa atitude do eu-lírico manifesta a:
(A) ironia romântica.
(B) tendência romântica ao misticismo.
(C) melancolia romântica.
(D) aversão dos românticos à natureza.
(E) fuga romântica para o sonho.
4. (PUC-SP)
Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito!
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome os lábios meus suspiram,
Um nome de mulher... e vejo lânguida
No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso... Que delírios!
Acordo palpitante... inda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo...
Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos?
Os versos acima integram a obra Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Da leitura deles podemos depreender que o poema:
(A) ilustra a dificuldade de conciliar a ideia de amor com a de posse física.
(B) manifesta o desejo de amar e a realização amorosa se dá concretamente em imagens de sonho.
(C) concilia sonho e realidade e ambos se alimentam da presença sensual da mulher amada.
(D) espiritualiza a mulher e a apresenta em recatado pudor sob “véu suave de amorosas sombras”.
(E) revela sentimento de frustração provocado pelo medo de amar e pela recusa doentia e deliberada à entrega amorosa.
Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito!
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome os lábios meus suspiram,
Um nome de mulher... e vejo lânguida
No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso... Que delírios!
Acordo palpitante... inda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo...
Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos?
Os versos acima integram a obra Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Da leitura deles podemos depreender que o poema:
(A) ilustra a dificuldade de conciliar a ideia de amor com a de posse física.
(B) manifesta o desejo de amar e a realização amorosa se dá concretamente em imagens de sonho.
(C) concilia sonho e realidade e ambos se alimentam da presença sensual da mulher amada.
(D) espiritualiza a mulher e a apresenta em recatado pudor sob “véu suave de amorosas sombras”.
(E) revela sentimento de frustração provocado pelo medo de amar e pela recusa doentia e deliberada à entrega amorosa.
5. (UFOP) Leia com atenção o seguinte texto:
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei, chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L& PM, 1998. p.190-191)
Agora assinale a alternativa incorreta.
(A) O poema ressalta uma situação bastante comum na estética romântica, qual seja o paradoxo da figura feminina, construída entre passividade e atividade.
(B) O poeta oscila entre a pura contemplação e a possibilidade de concretização da relação amorosa.
(C) Romanticamente o poema leva a crer que é através do sonho que existe a melhor oportunidade para a realização carnal do amor.
(D) É possível perceber uma certa antecipação da estética realista-naturalista na descrição do corpo da mulher.
(E) Como poema do Romantismo, o texto apresenta uma construção saudosista, voltada para o passado.
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei, chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L& PM, 1998. p.190-191)
Agora assinale a alternativa incorreta.
(A) O poema ressalta uma situação bastante comum na estética romântica, qual seja o paradoxo da figura feminina, construída entre passividade e atividade.
(B) O poeta oscila entre a pura contemplação e a possibilidade de concretização da relação amorosa.
(C) Romanticamente o poema leva a crer que é através do sonho que existe a melhor oportunidade para a realização carnal do amor.
(D) É possível perceber uma certa antecipação da estética realista-naturalista na descrição do corpo da mulher.
(E) Como poema do Romantismo, o texto apresenta uma construção saudosista, voltada para o passado.
6. (UEL) O fragmento do poema abaixo pertence à segunda parte da obra Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo. Leia-o, analise as afirmativas que o seguem e assinale a alternativa correta.
É ela! É ela! É ela! É ela!
É ela! É ela! – murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou – é ela!
Eu a vi — minha fada aérea e pura –
A minha lavadeira na janela!
[...]
Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
[...]
Afastei a janela, entrei medroso:
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido...
Oh! Decerto... (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dela... que amanhã decerto
Ela me enviará cheios de flores...
[...]
É ela! é ela! – repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! Meu Deus! era um rol de roupa suja!
(A) O tema da mulher idealizada é constante na obra de Álvares de Azevedo. No poema em questão, a imagem da virgem
sonhadora é simbolizada pela lavadeira, uma forma de denunciar os problemas sociais e, ao mesmo tempo, reportar a
imagem feminina ao modelo materno.
(B) No poema "É ela! É ela! É ela! É ela!", a musa eleita é uma lavadeira. Dizendo-se apaixonado, o eu-lírico a observa enquanto dorme e retira do seio da amada uma lista de roupa, que imaginara ser um bilhete de amor. Trata-se de uma forma melancólica de expressar a grandeza das relações humanas e representar a concretização do amor.
(C) O emprego de termos elevados em referência à lavadeira, tais como "fada aérea e pura", é um fator que reforça o riso por associar a lavadeira a uma musa inspiradora e exaltadora da paixão. Trata-se, portanto, de um poema de linha irônica e prosaica, que revela os valores morais daquela época.
(D) O poema, no conjunto das estrofes acima transcritas, revela tédio e melancolia. Esses sentimentos são reforçados pelo murmúrio do eu-lírico, "É ela! É ela!", ao visualizar sua amada.
(E) A figura da lavadeira no poema é a de uma mulher que não se pode possuir. Dessa maneira, o poema afasta a possibilidade de concretização do ato sexual, confirmando a idealização da mulher no período romântico.
É ela! É ela! É ela! É ela!
É ela! É ela! – murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou – é ela!
Eu a vi — minha fada aérea e pura –
A minha lavadeira na janela!
[...]
Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
[...]
Afastei a janela, entrei medroso:
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido...
Oh! Decerto... (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dela... que amanhã decerto
Ela me enviará cheios de flores...
[...]
É ela! é ela! – repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! Meu Deus! era um rol de roupa suja!
(A) O tema da mulher idealizada é constante na obra de Álvares de Azevedo. No poema em questão, a imagem da virgem
sonhadora é simbolizada pela lavadeira, uma forma de denunciar os problemas sociais e, ao mesmo tempo, reportar a
imagem feminina ao modelo materno.
(B) No poema "É ela! É ela! É ela! É ela!", a musa eleita é uma lavadeira. Dizendo-se apaixonado, o eu-lírico a observa enquanto dorme e retira do seio da amada uma lista de roupa, que imaginara ser um bilhete de amor. Trata-se de uma forma melancólica de expressar a grandeza das relações humanas e representar a concretização do amor.
(C) O emprego de termos elevados em referência à lavadeira, tais como "fada aérea e pura", é um fator que reforça o riso por associar a lavadeira a uma musa inspiradora e exaltadora da paixão. Trata-se, portanto, de um poema de linha irônica e prosaica, que revela os valores morais daquela época.
(D) O poema, no conjunto das estrofes acima transcritas, revela tédio e melancolia. Esses sentimentos são reforçados pelo murmúrio do eu-lírico, "É ela! É ela!", ao visualizar sua amada.
(E) A figura da lavadeira no poema é a de uma mulher que não se pode possuir. Dessa maneira, o poema afasta a possibilidade de concretização do ato sexual, confirmando a idealização da mulher no período romântico.
7.(UFOP)
Namoro a cavalo
Eu moroem Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcineia namorada.
Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela...
Todo o meu ordenado vai-seem flores
E em lindas folhas de papel bordado,
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado.
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como em toda a Comédia – em casamento...
Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...
Eu não desanimei! Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...
Mas eis que ao passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...
O cavalo ignorante de namoros
Entredentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com as pernas para o ar, sobre a calçada...
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L & PM, 1998. p. 190-191)
Em relação ao texto acima, todas as afirmativas são verdadeiras, exceto:
(A) O poema desfaz a sublimidade da relação amorosa, acentuando aspectos vulgares e/ou grotescos.
(B) O envolvimento do poeta com a situação narrada não lhe permite qualquer tentativa de autocrítica.
(C) O discurso poético explicita uma espécie de investimento frustrado, através do tratamento dado ao tema romântico.
(D) A ironia é construída pelo distanciamento da voz poética, ou seja, pelo jogo entre presente e passado.
(E) Há uma dissonância entre o discurso romântico-sentimental e o tom jocoso que a linguagem assume.
Namoro a cavalo
Eu moro
Que rege minha vida malfadada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcineia namorada.
Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela...
Todo o meu ordenado vai-se
E
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado.
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como em toda a Comédia – em casamento...
Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...
Eu não desanimei! Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...
Mas eis que ao passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...
O cavalo ignorante de namoros
Entredentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com as pernas para o ar, sobre a calçada...
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L & PM, 1998. p. 190-191)
Em relação ao texto acima, todas as afirmativas são verdadeiras, exceto:
(A) O poema desfaz a sublimidade da relação amorosa, acentuando aspectos vulgares e/ou grotescos.
(B) O envolvimento do poeta com a situação narrada não lhe permite qualquer tentativa de autocrítica.
(C) O discurso poético explicita uma espécie de investimento frustrado, através do tratamento dado ao tema romântico.
(D) A ironia é construída pelo distanciamento da voz poética, ou seja, pelo jogo entre presente e passado.
(E) Há uma dissonância entre o discurso romântico-sentimental e o tom jocoso que a linguagem assume.
GABARITO:
01. C
02. C
03. A
04. A
05. E
06. C
07. B
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