segunda-feira, 25 de julho de 2011

REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA

O QUE É LÍNGUA PORTUGUESA?

Língua Portuguesa é o conjunto-universo de todas as variedades de uso de um código comum a todos os brasileiros, sem exluir nenhuma delas.

(definição de Edward Lopes)

Segundo Edward Lopes existem oito variedades discursivas no Português do Brasil:
1)      Fala culta formal.
2)      Fala culta informal
3)      Fala popular formal
4)      Fala popular informal
5)      Escrita culta formal
6)      Escrita culta informal
7)      Escrita popular formal
8)      Escrita popular informal

É necessário observar que:
a) as fronteiras entre essas variedades são fluidas.
b) todas essas variedades coexistem no dia a dia.
c) além dessas variedades existem línguas-objeto e de metalinguagem elaboradas para fins específicos, como o discurso técnico (culinária, futebol, presos...) e o discurso científico.

O QUE É APRENDER UMA LÍNGUA?

Aprender uma língua significa aprender os usos dela. ( Halliday, 1978, p. 128).


A ESCOLA DEVE ENSINAR A NORMA CULTA?

“A escola pode e deve fazê-lo, até mesmo com prioridade sobre todas as outras variedades de uso do idioma, se se quiser, mas nunca com exclusividade, como tem feito”. (Edward Lopes)

O QUE FAZ UMA OBRA SER LITERÁRIA?

“O que faz d’ Os Lusíadas uma obra literária não é o que ele diz, o seu plano de conteúdo, visto que este, como qualquer outro plano de conteúdo, poderia ser traduzido, igualmente bem por qualquer outra modalidade de discurso, um discurso em prosa digamos. O que faz d’ Os Lusíadas uma obra de arte literária não é o que ele diz, é o como ele diz isso que diz”.   ( Edward Lopes)

Edward Lopes é Autor de Fundamentos da linguística contemporânea, considerado o mais completo e sistemático manual de linguística publicado no Brasil. Também é autor de Metamorfoses: a poesia de Cláudio Manoel da Costa e de Discurso, texto e significação: uma teoria do interpretante.

QUE TRATAMENTO A ESCOLA DEVE OFERAR AO TEXTO LITERÁRIO?

Segundo os parâmetros curriculares nacionais do ensino fundamental, o texto literário não deve ser usado como “pretexto para o tratamento de questões como valores morais e tópicos gramaticais”. Na verdade, ele deve ser usado para contribuir com “a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias”.  


QUEM FALA BEM, ESCREVE BEM?

Jornalista Margot Cardoso, da Revista Vencer, sobre as duas habilidades:
“Escrever e falar são atividades diferentes. Tanto o ato de escrever como o de falar exigem conhecimentos e treinos específicos”. Ela cita um exemplo de Reinaldo Polito:  “O escritor Luís Fernando Veríssimo se preparou ao longo de sua vida para o ato da escrita. Ele é muito preparado intelectualmente, escreve maravilhosamente bem, mas para falar....nada. Já o apresentador Sílvio Santos não tem preparo intelectual, nem escreve, mas fala maravilhosamente bem” .


REFLEXÕES DE MARCOS BAGNO SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA

1)     Não existe erro de português. Existem diferentes variedades de português.
2)     A ortografia é necessária, mas é criada de modo artificial, ou seja, é fruto de uma decisão política. Ela  pode mudar de época para outra.
3)     Toda língua muda e varia. O que hoje é visto como certo já foi erro no passado. O que hoje é visto como erro pode vir a ser perfeitamente aceito como certo no futuro da língua.
4)     A língua portuguesa não vai nem bem, nem mal. Ela simplesmente VAI, isto é, segue seu caminho, transformando-se segundo suas próprias tendências internas.
5)     Respeitar a variedade linguística de uma pessoa é respeitar a integridade física e espiritual dessa pessoa como ser humano digno de todo respeito.
6)     O ensino da norma culta tem de ser feito como um acréscimo à bagagem linguística da pessoa e não como uma substituição de uma língua “errada” por uma “certa”.
7)     Uma receita de bolo não é um bolo, um molde de vestido não é um vestido, um mapa-múndi não é o mundo...Também a gramática não é a língua. A língua é um enorme iceberg flutuando no mar do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele, a chamada norma culta.
Marcos Bagno: escritor, professor, tradutor, graduado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde também obteve o título de Mestre em Linguística com uma investigação sociolinguística sobre o tratamento da variação nos livros didáticos de português. Doutorado em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP).


LÍNGUA PORTUGUESA  (Olavo Bilac)

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

DECLARAÇÃO DE AMOR (autoria: Clarice Lispector)

Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.


domingo, 24 de julho de 2011

RACHEL DE QUEIROZ

UM RETRATO DE RACHEL DE QUEIROZ


Texto: Belinha


Rachel de Queiroz sempre foi ávida leitora. Em sua casa, todos liam bastante. Ao cinco anos, leu “Ubirajara”, do José de Alencar, mesmo sem entender uma palavra. Mas ela garantiu que não leu “A bagaceira”, antes de escrever O Quinze. Admitiu que já havia lido romances naturalistas de Domingos Olímpio, mas a fixação pelo assunto da seca atribuiu ao fato de que esse era um tema permanente no nordeste. Rachel tinha apenas quatro anos na época dessa seca, mas se lembrava de quando ia a Fortaleza com suas tias aos terrenos onde se recolhiam as vítimas dessa tragédia. Contava com 19 anos ao escrever O quinze, mas já possuia a experiência de trabalhar em um jornal, portanto, já era uma profissional da palavra.
A escritora se dizia muito exigente em relação ao próprio trabalho literário. Certa vez contou que a primeira crítica que recebeu de Maria Moura foram uns comentários contundentes da Veja e, o pior que Rachel, no seu perfeccionismo, considerou que o jornalista tinha toda razão. Isso a deixou mal por uma semana. Da mesma forma, nem mesmo as adaptações de sua obra para a TV a deixava satisfeita. A adaptação de Memorial de Maria Moura, por exemplo, tinha muito sexo e violência para seu gosto.
Rachel sobreviveu por mais de trinta anos como tradutora. Dostoiévski e Tolstói foram alguns dos autores traduzidos. Mas como era amiga de José Olympio, escolhia livremente os livros que desejava traduzir. Através da tradução, ela foi travando contato com os procedimentos dos autores traduzidos. Isso, segundo ela, fazia com que se sentisse como alguém desmanchando o crochê alheio.
Para quem acha que por ser a primeira mulher a ocupar a Academia Brasileira de Letras, cadeira n. 5,  Rachel se sentia como uma feminista, ledo engano. Ela dizia ter horror às feministas, por considerar o movimento feminista como distorcido em seus estandartes. Apesar disso, ela acreditava, sim, na existência de uma escrita feminina, pois no seu entender, o mundo masculino e o mundo feminino têm cada um seu caráter peculiar.
Rachel não demonstrava falsos idealismos com relação à arte literária. Para ela, a literatura não transforma ninguém, pois não é essa a função da arte.
A escritora era fã de Manuel Bandeira, de quem foi amiga até a morte deste. Também teve amizade Carlos Drummond de Andrade, mas sem a mesma intimidade que havia em relação a Bandeira. Quando interrogada sobre seus próprio pendor poético, ela confessa que tentou fazer poesia, mas achava tão ruim o que fazia que escondia.
Rachel escreveu “O quinze” à mão, de lápis, à luz de um lampião e ainda por cima doente. Os próprios pais emprestaram-lhe dinheiro para a edição de mil exemplares da obra. Tempos depois ganhou uma máquina de escrever elétrica, que tornou-se sua companheira de criação artística. Mas ainda continuava corrigindo à mão, após isso sua secretária transpunha tudo para o computador.
Quanto às suas origens judaica, acreditava que apareciam mais no seu modo de ser que em sua obra literária. Sentia orgulho de existir uma creche em Israel com seu nome _ era uma homenagem de um grupo de amigos.
Rachel fez parte do comunismo, mas afirmou que foi por pouco tempo porque, afinal, eles tentaram pôr censura em um de seus livros (João Miguel). Isso, contudo, não a impediu de ser fichada pela polícia de Pernambuco, sob a alegação de ser uma “agitadora comunista”. Mas ela garantiu que não tinha posição política ao escrever “O quinze”. Admite que mais tarde conspirou com os generais para a derrubada do Jango porque acreditar que ele representava a ditadura do Getúlio. Ela era amiga de muitos generais e parente de Castelo Branco, os dois tratavam-se como primos. Em sua casa, os amigos generais se reuniam para fazer o debate da situação política. Mas advirta-se, que após a queda de Castelo Branco, ela nunca mais apoiou o regime militar.
Rachel conheceu o padre Cícero em 1930. Ele era amigo de seu pai e dos seus tios. Ela o chamava de padrinho e admirava sua inteligência. Segundo ela, sua relação com ele era mais por simpatia, pois não era religiosa.
A escritora cearense revelava ser cética em relação ao ser humano, de quem dizia não acreditar. Por outro lado, mostrava-se otimista em relação ao Brasil e aos brasileiros. Sentia-se bem tanto no Rio, como em São Paulo ou Goiás, terra de seu segundo marido.    
Acreditava que a educação era o problema mais sério do país, apesar de deixar claro que não sabia as soluções.
Não obstante seu enorme talento e o fato de ser descendente de José de Alencar, ela não acreditava ser uma romancista nata. Achava que seus romances eram formas de exteriorizar seu ofício, o jornalismo. Chegou até afirmar que não gostava de escrever, fazia isso como forma de sustento. Mas à sua modéstia se casava o perfeccionismo: nunca considerava um livro esgotado em sua escrita. Era preciso que lhe arrebatassem o material das mãos. Também era crítica do trabalho dos amigos: não via Mário de Andrade e Oswald de Andrade como poetas. Mas como era educada, só revelou isso após a morte deles.
            Rachel faleceu em 4/11/2003, em sua própria casa no Rio de Janeiro, enquanto dormia em sua rede. Ela partiu aos 92 anos, vítima de um infarte. Antes disso, ela havia sofrido um derrame, em 1999. Seu velório foi na Academia Brasileira de Letras. “A Gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado”, disse uma vez. É verdade. Mas seus livros ainda serão por muito tempo boa companhia para muita gente.



Fonte de pesquisa:
1) Cadernos de literatura brasileira. Rachel de Queiroz.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Alguns livros de Clarice Lispector descritos  por Beth Goulart

A atriz Beth Goulart revelou à Revista Cult quais são seus livros de Clarice Lispector preferidos. Você saberia identificá-los pela descrição que ela faz?


a)      “Fala não só sobre literatura, mas também sobre a música e a pintura. Ela faz uma trança entre essas três manifestações artísticas para falar do que inspira os artistas, sobre o que é alma humana, sobre como atingir alguma coisa inatingível e dizer o indizível. É um livro muito profundo para nós, artistas, porque ela descreve muito bem o processo da arte”.

b)      “É muito especial, primeiro porque começa com uma vírgula e termina com dois-pontos. Isso já é uma ousadia literária, pois significa que a história que vai ser contada é só um fragmento da vida daqueles dois personagens: uma mulher e um professor de filosofia. Toda a literatura de Clarice nos revela muito, fala do que vai por dentro da gente, especialmente neste livro. O professor aos poucos mostra à mulher a importância do encontro amoroso e da escolha de viver esse encontro. Pede a ela que se prepare, que tenha a certeza de que é isso mesmo que está sentindo, para poder realmente se entregar”.

c)      “Foi o primeiro livro que eu li. É um livro que fala muito do impulso criativo. Eu coloquei esta obra na peça para representar justamente esse impulso selvagem da criação. A personagem Joana é retratada desde a infância até a maturidade sempre por meio desse lado inquieto do ser, em busca de sua própria identidade e de sua visão pessoal do mundo”.

d)     “Há um encontro com algo superior a si mesmo, que muita gente chama de ‘sabedoria mística da vida’, ou seja, ela se identifica com uma barata e, para transcender a si mesma, precisaria comer o inseto. Essa é uma visão muito profunda. Realmente é um romance imperdível”.




RESPOSTAS:

a) Água viva
b) Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres
c) Perto do coração selvagem
d) A paixão segundo G.H.
ROTEIRO SOBRE A SEMANA DE ARTE MODERNA

Autoria: Belinha; do blog Estação da palavra

PERSONAGENS:

  • Narrador
  • Oswald de Andrade
  • Mário de Andrade
  • Menotti Del Picchia

Narrador: os poetas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia conversam sobre o atual estágio da literatura brasileira.

Oswald de Andrade: Mário, estive na Europa há pouco tempo atrás e lá vi coisas incríveis. Os intelectuais se reúnem formando movimentos vanguardistas e lançam manifestos nos jornais. Eles estão fazendo uma arte mais livre, na qual o artista não se prende a amarras da rima, do metro e do soneto. Pelo contrário, escrevem o que querem e agitam o meio com ideias inovadoras.

Mário de Andrade: Também ouvi falar nessas mudanças. São uns nomes esquisitos: futurismo, cubismo, uma porção de “ismos”. Mas lá, as novidades surgem primeiro. A Europa sempre está à nossa frente em tudo.

Menotti Del Picchia: Mas podemos mudar isto! É só reunirmos uma pequena parcela de artistas como nós e criarmos também um movimento aqui no Brasil. Já pensou? Poderíamos divulgá-lo nos jornais.

Mário de Andrade: Detesto a arte parnasiana. Escrevi uma série de artigos contra os parnasianos no jornal. Como é que se pode achar bonito um poema vazio, sem ideia, sem alma, só porque foi escrito por fulano de tal? Olavo Bilac que me perdoe, ele pode ser o príncipe dos poetas para o povo, mas para mim, não.

Narrador: Os três poetas discutem e planejam formas de arejar o parado meio artístico brasileiro. Publicam artigos nos jornais paulistas, mas se acham sem muito prestígio para inaugurar o movimento. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, os artistas também pensam na mesma ideia de renovação, como é o caso de Anita Malfatti e do escultor Victor Brecheret. Eles ganham bolsa para estudar no exterior e lá, entram em contato com as estranhas vanguardas europeias. Voltam maravilhados e se põem a imitar o que viram, importando as técnicas cubistas e futuristas.
Mas apesar de tanto desenvolvimento econômico, São Paulo ainda era um lugar provinciano nos costumes e, por isso, as telas de Anita provocaram um verdadeiro escândalo. As imagens eram distorcidas e as pessoas consideravam-nas aberrações sem nexo ou meras caricaturas. Monteiro Lobato publicou um furioso artigo no jornal “O Estado de São Paulo”, atacando a pintura da pobre pintora!

Menotti Del Picchia: Gente, olha só o que Monteiro Lobato escreveu no jornal a respeito das pinturas de Anita Malfatti (lendo o jornal):
“Seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios de um impressionismo discutibilíssimo, e põe todo o seu trabalho a serviço de uma nova espécie de caricatura. Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, expressionismo, não passam de outros tantos ramos da arte caricatural. Caricatura que não visa ressaltar uma ideia cômica, mas sim, desnortear, aparvalhar o espectador”.

Mário: Lobato não entende nada de arte moderna. Pinta umas bobagens na sua fazenda e até escreve bem, mas está totalmente deslocado do que acontece pelo mundo. A pintura de Anita é uma verdadeira obra prima. Imagine só, 53 trabalhos! Que talento!

Oswald: É culpa do atraso cultural em que vivemos. Comigo aconteceu a mesma coisa. Eu escrevi o poema “último passeio de um tuberculoso, pela cidade, de bonde” e só não fizeram me matar. Todo mundo criticou, acharam horrível, daí eu preferi dá sumiço no poema.

Narrador: Em 09 de janeiro de 1921, os intelectuais se reúnem no TRIANON para prestar uma homenagem a Menotti Del Picchia pela publicação de seu livro “Máscaras”:

Oswald: viemos trazer-lhe nossa humilde homenagem. Mas cada vez conscientizo-me de que é preciso reagir. É preciso esfacelarem-se os velhos moldes literários, reformarem a técnica, arejar-se o pensamento surrado no eterno uso das mesmas metáforas. A vida não para e arte é vida. Mostremos, afinal, que no Brasil não somos um montão inerte e inútil de cadáveres.

Os três poetas gritam:

VIVA A ARTE MODERNA!!!

Narrador: no ano seguinte, ocorreria a Semana de Arte Moderna, golpeando de vez a literatura do passado. A Semana só foi possível graças ao apoio incondicional de políticos, empresários e latifundiários paulistas, que saboreavam a ideia de sacudir o caipirismo de onde viviam. Outro fator importante foi a adesão de Graça Aranha ao movimento. Com o prestígio de seu nome, atraiu as pessoas ao Teatro Municipal e, assim, foi padrinho do movimento.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

PIADAS GRAMATICAIS

PIADA 1:

A professora está ensinando o uso de pronomes e pede ao Carlinhos:
__ Faça uma frase com o pronome consigo!
O Carlinhos:
__ Eu não consigo correr muito.        ( Donaldo Buchweitz)


PIADA 2:

A professora pergunta: Mariazinha me fale um verbo.

E a mariazinha responde: Bicicreta professora!

E a professora: Mariazinha é bicicleta, e bicicleta não é verbo.

Pedrinho fale um verbo.

E o pedrinho: Prástico.

E a professora: Pedrinho é plástico, e plástico não é verbo.

Joãozinho fale um verbo.

E o joãozinho fala: Hospedar.

Muito bem joãosinho agora fale uma frase com esse verbo!

E o joãozinho : Ospedar da bicicreta é de prastico.


PIADA 3:

A professora pergunta pro Joãozinho:

- Joãozinho, em que tempo está o verbo da frase:
"Isso não poderia ter acontecido." E ele responde :

- Preservativo imperfeito !


PIADA 4:

A professora mandou Joaozinho recitar uma poesia e ele comecou:
Eu Cavo Tu Cavas Ele cava Nos Cavamos Vos Cavais Eles Cavam A professora disse a Joãozinho:  mas o que há de poético nisto?
Joaozinho responde:
isso pode nao ser poético mas é bastante profundo.


PIADA 5:

Errando o Verbo
O marido, ao chegar em casa no final da noite, diz à mulher que já estava deitada:
- Querida, eu quero amá-la!
A mulher, com voz sonolenta:
- A mala? Ah... não sei onde está, não! Usa a mochila que está no maleiro do quarto de visitas.
- Não é isso querida, hoje vou amar-te!
- Por mim, você pode ir até Júpter, até Saturno e até a puta que o pariu, desde que me deixe dormir em paz!

PIADA 6:

A patrão chama sua funcioária e pede:
-Por favor, preencha um cheque de 600 reais para eu pagar uma conta!!
A funcionara demora muito para preencher o cheque e volta com uma duvida crucial:
- Chefe a palavra 600 se escreve com S ou com C?
O patrão irritado ameaça demitir a funcionaria caso ela não melhore seu português.
-Por favor, chefinho, eu prometo estudar mais português e me tornar tão boa em gramática quanto o senhor, só me tire está duvida. O cheque deve seu escrito com S ou com C?
Nisso o chefe fica algum segundo pensativo e reponde:
-É o seguinte faça dois cheques de trezentos!!!

PIADA 7:

A professora olhou para o Joãozinho e disse:
- Joãozinho, essa maçã aí, na sua carteira. Ele respondeu:
- É pra mim comer, professora. Ela o corrigiu:
- É pra eu comer. Joãozinho:
- Não é para a senhora não, professora, é para mim mesmo.

PIADA 8:

A professora mandou o Joãozinho colocar uma caixa vazia na lixeira, mas ele a botou em cima. Ela reclamou:
- Por que não colocou a caixa dentro da lixeira, Joãozinho?
- Porque não cabeu, professora. Ele respondeu.
- Não coube, ela retrucou.
- Agora você vai escrever 100 vezes nesta folha “não coube”, sentenciou a professora.
Passou algum tempo, Joãozinho estava parado olhando para o caderno.
- Escreveu  cem vezes as palavras que lhe mandei? Perguntou a professora.
- Escrevi só 99, professora. Respondeu.
- Por quê? Quis saber ela.
-Porque não cabeu tudo, professora!

PIADA 9:

Joãozinho conversava na aula e a professora:

- JOÃOZINHO! Me diga dois pronomes, agora!
- Quêm?
Eu?
- Muito bem, pode sentar.

PIADA 10:

Porque uma Rodovia federal se chama "BR"??
R: porque abreviação de buracos na rodovia é BR!!, o numeral seguindo conta o tamanho do buracos, profundidade, e etc...


PIADA 11:

A professora de português dava aula aos alunos em recuperação, quando percebeu uma aluna distraída no fundo da sala, então resolve fazer uma pergunta:

- Na frase, "Joaquim roubou a bolsa" Onde esta o sujeito?

A distraída pensou um pouco e respondeu:

- PRESO professora!

A professora não querendo reprová-la fez outra pergunta:

- Na frase "Eliseu comeu e não pagou", a palavra "Eliseu" é classificada como?

A distraída pensa mais um pouco e responde:

- É verbo, professora!

A professora já sem esperança e um pouco irritada resolve perguntar:

- Verbo?! Pois conjugue o verbo "Eliseu" pra mim.

A loirinha:

- É fácil!!!

EU EU

TU EU

ELE EU

NÓS EU

VÓS EU

"ELES EU"

PIADA DE REDAÇÃO

__ Joãozinho, por que é que a sua redação sobre o leite tem uma página em branco e a de seus colegas duas ou três páginas?

__ É que eu escrevi sobre o leite condensado, professora.   ( Donaldo Buchweitz)

AULA DE GRAMÁTICA
 
verdadeira aula..... de Gramática

Filho da puta é adjunto adnominal, quando a frase for: ''Conheci um político filho da puta".

Se a frase for: "O político é um filho da puta", daí, é predicativo.

Agora, se a frase for: "Esse filho da puta é um político", é sujeito.

Porém, se o cara aponta uma arma para a testa do político e diz: "Agora nega o roubo, filho da puta!" - daí é vocativo.

Finalmente, se a frase for: "O ex-ministro, aquele filho da puta, desviou o dinheiro para o mensalão" daí, é aposto.

Que língua a nossa, não?!

COMPLETANDO: Se estiver escrito: "Saiu da presidência em janeiro." O filho da puta é sujeito oculto.

TESTE: VOCÊ TEM ESPÍRITO POÉTICO?

Feito por: Belinha (autora do blog)

Responda SIM ou NÃO para cada pergunta. Conte a quantidade de respostas afirmativas e negativas e confira o resultado para ver se você tem espírito poético.

Gosto de ler poemas; uma boa poesia me seduz.

Escrevo ou escrevi vários poemas, por vontade própria.

Já me emocionei com a leitura de poesias feita por outras pessoas.

Sei pelo menos um poema de cor.

Ficaria bastante feliz se alguém fizesse um poema para mim.

Se me apaixono, invento ou copio poemas para o meu amado.

Considero a poesia algo necessário à alma das pessoas.

As letras de algumas músicas me encantam.

Tenho pelo menos um poeta predileto.

Entre um livro de ficção e um livro de poesia, prefiro este último.

Se tivesse oportunidade, motivaria as pessoas a lerem poesia.

Já tentei fazer uma paródia de algum poema ou de uma letra música.

Fico triste quando alguém diz que não gosta de poesia.

Ganhar um livro de poesias seria melhor que ganhar uma caixa de chocolate.

Ficaria feliz se pudesse tirar uma foto ao lado de um grande poeta ou conseguir seu autógrafo.

Usaria ou presentearia alguém com uma camiseta com frases poéticas.

Acho interessante quem sabe citar versos seu ou alheios.

RESULTADO:

MAIORIA DAS RESPOSTAS  FOI “SIM”:  Verdadeiramente, você possui espírito poético. Sente atração pela poesia e consegue transmitir isso até no seu jeito de ser. Você tem um forte lado emocional e sente fascínio pela linguagem humana. Seja ou não poeta, sabe valorizar a poesia e entende a beleza das coisas.

MAIORIA DAS RESPOSTAS FOI “NÃO”: Seu espírito racional e pragmático está impedindo você de apreciar a arte poética e deixando sua vida cultural mais pobre. Você precisa aprender a cultivar seu lado mais leve e emocional.

Observação: este teste é apenas uma forma lúdica de provocar a reflexão sobre a poesia e o fenômeno da escrita poética. Não se exija dele rigor ou seriedade.


A VISÃO POÉTICA

Texto de: Belinha (autora do blog)

Muita gente não consegue viver sem escrever poesia e muita gente não consegue entender por que alguém dedica sem tempo a ler ou escrever esse tipo de coisa. A poesia é, na verdade, uma forma de enxergar os seres e as coisas. Você pode observá-los sem se dar realmente conta de como são ou até mesmo de que estão ali. A utilidade das coisas não nos deixa pensar na beleza de sua constituição e de sua simples existência. Estamos por demais imersos na banalidade do ato de ver. Diferentemente, são os poetas, que vêem o que nossos sentidos pragmáticos nos afastam. Entretanto, os poetas não são pessoas com dons extrassensíveis que vivem em funda meditação. São pessoas como nós, eu e você. O que devemos aprender com os poetas é sua disponibilidade para se deixar tocar pelas coisas. Estamos sempre tentando reorganizar o mundo, racionalizá-lo e adequá-lo a nós mesmos. Os poetas não procuram isso. Eles buscam perceber cada momento como uma experiência única e ver em cada pequeno elemento sua enorme totalidade. Essa “visão” ou experiência poética se dá dentro da linguagem poética. Essa linguagem é um arranjo de signos que ao nomear as coisas (“rosa de água com escamas” = cebola) nos faz vê-las sob um novo sentimento, sob um novo enfoque. Assim é que se diz que ela “transfigura a realidade”. Isso tudo me faz lembrar o filme “perfume, a História de um assassino”. Nessa película, o personagem sente os cheiros mais sutis, aqueles que nenhum nariz  humano perceberia. Isso leva-o a um caminho de glória e de autodestruição. Da mesma forma, a poesia mostra o lado trágico e glorioso da existência. Revela a beleza de uma lágrima caindo e, ao mesmo, a profunda dor que a punge. Assim como o personagem, sempre atento aos mínimos odores, os poetas estão  sempre buscando visibilizar todas as sensações.
Para entender como funciona esse olhar que a poesia proporciona, o texto “A complicada arte de ver”, de Rubem Alves é uma boa alternativa. Boa leitura.


A complicada arte de ver

Rubem Alves

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria!
Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.
Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”…

Rubem Alves – Educador e escritor.
Texto originalmente publicado no caderno “Sinapse”, jornal “Folha de S. Paulo”, em 26/10/2004.

terça-feira, 19 de julho de 2011

LÍNGUA PORTUGUESA: TRABALHANDO TEXTO DE DRÁUZIO VARELA


Dráuzio Varela, além de médico, é bom escritor. Veja uma sugestão de atividades de Língua Portuguesa a partir da leitura de um de seus textos.

Droga pesada   ( Dráuzio Varela)

            Fui dependente de nicotina durante 20 anos. Comecei ainda adolescente, porque não sabia o que fazer com as mãos quando chegava às festas. Era início dos anos 60, e o cigarro estava em toda parte: televisão, cinema, outdoors e com os amigos. As meninas começavam a fumar em público, de minissaia, com as bocas pintadas assoprando a fumaça para o alto. O jovem que não fumasse estava por fora.
            Um dia, na porta do colégio, um amigo me ensinou a tragar. Lembro que fiquei meio tonto, mas saí de lá e comprei um maço na padaria. Caí na mão do fornecedor por duas décadas; 20 cigarros por dia, às vezes mais.
            Fiz o curso de Medicina fumando. Naquela época, começavam a aparecer os primeiros estudos sobre os efeitos do cigarro no organismo, mas a indústria tinha equipes de médicos encarregados de contestar sistematicamente qualquer pesquisa que ousasse demonstrar a ação prejudicial do fumo. Esses cientistas de aluguel negavam até que a nicotina provocasse dependência química, desqualificando o sofrimento da legião de fumantes que tentam largar e não conseguem.
            No ano de 1970, fui trabalhar no Hospital do Câncer de São Paulo. Nesse tempo, a literatura científica já havia deixado clara a relação entre o fumo e diversos tipos de câncer: de pulmão, esôfago, estômago, rim, bexiga e os tumores de cabeça e pescoço. Já se sabia até que, de cada três casos de câncer, pelo menos um era provocado pelo cigarro. Apesar do conhecimento teórico e da convivência diária com os doentes, continuei fumando.
            Na irresponsabilidade que a dependência química traz, fumei na frente dos doentes a quem recomendava abandonar o cigarro. Fumei em ambientes fechados diante de pessoas de idade, mulheres grávidas e crianças pequenas. Como professor de cursinho durante quase 20 anos, fumei nas salas de aula, induzindo muitos jovens a adquirir o vício. Quando me perguntavam: ‘Mas você é cancerologista e fuma?’, eu ficava sem graça e dizia que ia parar. Só que esse dia nunca chegava. A droga quebra o caráter do dependente.
            A nicotina fumada é absorvida rapidamente pelos pulmões, vai para o coração e através do sangue arterial se espalha pelo corpo todo e atinge o cérebro. No sistema nervoso central, age em receptores ligados às sensações de prazer. Esses, uma vez estimulados, comunicam-se com neurônios responsáveis pelo comportamento associado à busca do prazer. De todas as drogas conhecidas, é a que mais dependência química provoca. Vicia mais do que álcool, cocaína, morfina e crack. E vicia depressa: de cada dez adolescentes que experimentam o cigarro quatro vezes, seis se tornam dependentes para o resto da vida.
            A droga provoca crise de abstinência insuportável. Sem fumar, o dependente entra num quadro de ansiedade crescente, que só passa com uma tragada. Enquanto as demais drogas dão trégua de dias, ou pelo menos de muitas horas ao usuário, as crises de abstinência da nicotina se sucedem em intervalos de minutos. Para evitá-las, o fumante precisa ter o maço ao alcance da mão; sem ele, parece que está faltando uma parte do corpo. Como o álcool dissolve a nicotina e favorece sua excreção, quando o fumante bebe, as crises de abstinência se repetem em intervalos tão curtos que ele mal acaba de fumar um, já acende outro.
            Em 30 anos de profissão, assisti às mais humilhantes demonstrações do domínio que a nicotina exerce sobre o usuário. O doente tem um infarto, passa três dias na UTI e não pára de fumar, mesmo que as pessoas mais queridas implorem. Sofre um derrame cerebral, sai pela rua de bengala arrastando uma perna paralisada, mas com o cigarro na boca. Cansei de ver doentes que perderam a laringe por câncer levantarem a toalhinha que cobre o orifício respiratório aberto no pescoço, aspirarem e soltarem a fumaça por ali.
            Existe uma doença, exclusiva de fumantes, chamada tromboangeíte obliterante, que obstrui as artérias das extremidades e provoca necrose dos tecidos. O doente perde os dedos do pé, a perna, uma coxa, depois outra, e fica ali na cama, aquele toco de gente, pedindo um cigarrinho pelo amor de Deus.
            Mais de 95% dos usuários de nicotina começam a fumar antes dos 25 anos. A imensa maioria comprará um maço por dia pelo resto de suas vidas, compulsivamente. Atrás desse lucro cativo, os fabricantes de cigarro investem fortunas na promoção do fumo para os jovens: imagens de homens de sucesso, mulheres maravilhosas, esportes radicais e a ânsia de liberdade. Depois, com ar de deboche, vêm a público de terno e gravata dizer que não têm culpa se tantos adolescentes decidem fumar.
            O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim como não admitimos que os comerciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as formas de publicidade de cigarro deveriam ser proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia.
                 

Por Belinha:

Entendimento

                                                                                                                                                                           
1.      Qual o ponto de vista defendido por Dráuzio Varela a respeito da propaganda de cigarros?


2.      Ele inicia o texto se apresentando como um ex-dependente de nicotina. Qual a intenção com essa apresentação parcial?


3.      O fato de Dráuzio Varela se apresentar como médico apenas depois de ter se apresentado como ex-fumante é importante para a argumentação que ele constrói em seu texto?  Por quê?


4.      Quais os argumentos utilizados por ele para demonstrar que não vale a pena fumar?


5.      Qual a relação que o médico estabelece, em seu texto, entre a propaganda tabagista e a juventude?

Gramática


Elabore três questões de gramática envolvendo palavras ou frases do texto. 


Produção textual:

Escolha uma das propostas:
a)      redija um texto dissertativo-argumentativo, a exemplo do que fez Dráuzio Varella, defendendo a aprovação da lei que proíbe as propagandas de cigarro nos meios de comunicação.
b)      Redija um texto dissertativo-argumentativo defendendo o ponto de vista de que a propaganda de um produto legalmente comercializado é um direito que deve ser garantido.

ROMANTISMO


INDICAÇÃO DE LEITURA

O texto abaixo, extraído do site http://www.casadobruxo.com.br/, pode ser uma maneira de introduzir o movimento literário do Romantismo, uma vez que a glorificação do amor através do sentimentalismo é uma das características básicas desse movimento. A leitura do texto possibilita uma reflexão sobre a temática do amor em nossa cultura e também pode ser tema de produção textual (Por exemplo: “ As relações amorosas _ ontem e hoje”).

Amor Romântico

Qual é a propaganda mais difundida, mais poderosa e mais eficaz do mundo? Coca-Cola? Malboro? IBM? Nada disso. É a do amor romântico. Ela existe há 800anos, mas até o século passado, apesar de arrebatar corações, não podia se misturar a uma relação fixa e duradoura. Casamento por amor, nem pensar! Impossível de se realizar, inatingível e tormentoso, nele a pessoa amada é sempre idealizada.

As histórias de Tristão e Isolda e de Romeu e Julieta ilustram bem como o amor romântico é regido pela impossibilidade. Quanto mais obstáculos a transpor, mais apaixonado ele se torna. Entretanto, em um determinado momento, interesses econômicos introduziram esse tipo de amor no casamento, transformando toda a sua história.

Até a Revolução Industrial, no final do século 18, as pessoas moravam mais no campo, junto a vários outros membros da família, o que fazia com que sentissem afetivamente amparadas. Os casamentos aconteciam por razões econômicas e políticas. Por isso é que duravam a vida toda. Não havendo romance nem expectativa de satisfação sexual, não havia decepções, e ninguém pensava em se separar.

Mas as fábricas e os escritórios que surgiam foram atraindo os homens para trabalhar nos centros urbanos. Nasceu, então, a família nuclear - mãe, pai, filhos - , agora sozinhos na cidade. Para que o casal suportasse viver assim, longe daqueles com quem tinha laços afetivos, inaugurou-se o amor romântico no casamento.

Atualmente existe uma campanha, incorporada por todos os meios de comunicação, que procura nos convencer de que só é possível ser feliz vivendo um romance, que traz a ilusão do amor verdadeiro. Tão grande quanto o desejo de vivê-lo. Por isso, poucos suportam ouvir que, apesar de toda a magia prometida, ele não passa de uma mentira. Sem contar que traz mais tristeza do que alegria, além de muito sofrimento.

Desde que nascemos nos empurram o amor romântico goela abaixo, como se fosse um pacote econômico do governo. Não se discute, cumpre-se. Uma criança de um ano, por exemplo, já toma sua sopinha com a babá, assistindo à novela das sete. Na hora de dormir, a mãe conta a história de Branca de Neve ou Cinderela, e assim por diante.
Todas expectativas e idéias do amor romântico são passados como uma única forma de amor, e aprendemos a sonhar e a buscar um dia viver tal encantamento.

Entretanto, são várias as mentiras que o amor romântico impõe para manter a fantasia do par amoroso idealizado, em que duas pessoas se completam, nada mais lhes faltando. Entre elas estão afirmações absurdas como:

-Só é possível amar uma pessoa de cada vez.
-Quem ama não sente tesão por mais ninguém.
-O amado é a única fonte de interesse do outro.
-Quem ama sente desejo sexual pela mesma pessoa a vida inteira.
-Qualquer atividade só tem graça se a pessoa amada estiver presente.
-Todos devem encontrar um dia a pessoa certa.
Como nenhuma delas corresponde à realidade, em pouco tempo de relação vêm a decepção e a frustração. No amor romântico idealizamos a pessoa amada e projetamos nela tudo que gostaríamos de ser ou como gostaríamos que ela fosse. Não nos relacionamos com a pessoa real, mas com a inventada. É claro que, na intimidade da convivência do dia a dia, para manter a idealização a consequência natural é o desencanto. É por isso que se faz tanta música de dor de amor. E, para completar, todo mundo adora.