Olá, gente, disponibilizo aí algumas de minhas anotações sobre esse maravilhoso romance naturalista de Aluísio Azevedo, “ O cortiço”.
A animalização em “O cortiço”
Jerônimo:
Tinha uma força de touro que o fazia respeitado.
Firmo:
...ágil como um cabrito.
Era capoeira e oficial de torneiro. Onça enjaulada.
Lembrava um rato morrendo a pau.
Libório:
Saiu do seu buraco que nem jabuti quando vê chuva.
Era tão feroz naquela fome de cão sem dono.
Botelho:
Óculos redondos que lhe davam à cara expressão de abutre.
Deitaram a fugir que nem cães apedrejados.
...numa exalação forte de animais cansados.
O escândalo no cortiço assanhou a estalagem inteira, como um jato de água quente num formigueiro.
Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas, fazendo compras.
...transformando-se num verminar constante de formigueiro assanhado.
Machona, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo.
Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.
...caiu morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta.
E gozou-a loucamente, com alívio, com verdadeira satisfação de animal no cio.
...uma coisa viva, uma geração, parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.
Nunca via gente tão danada para parir! Pareciam ratas.
Sobre a tristeza de Marciana ao perder a filha:
Não pregou o olho durante toda noite, inquieta, ululando, como uma cadela a quem roubaram o cachorrinho.
E cada verso que vinha de sua boca era um arrulhar choroso de pomba no cio. E o Firmo, bêbado de volúpia, enroscava-se todo ao violão, e o violão e ele gemiam com o mesmo gosto, grunhindo, ganindo, miando, com todas as vozes de bichos sensuais.
...doida de luxúria, irracional, feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e relichando.
A bruxa:
Era extremamente feia, grossa, triste, olhos desvairados, dentes de cão.
Florinda, filha de Marciana:
Tinha olhos luxuriosos de macaca.
Piedade:
Uma vaca chamando ao longe.
Inquieta que nem um cão ao lado do dono.
Trabalhadores da pedreira:
...a respiração forte e tranquila de animal sadio, num feliz e pletórico resfolegar de besta cansada.
Rita Baiana:
...feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher.
Só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada.
Ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida.
...como um cão que espera pelo dono.
Descrição do instinto:
Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e o desconfiado de toda a fêmea pelas outras, quando sente o ninho exposto.
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São personagens redondas:
A Estela, o Miranda, o João Romão.
O ato sexual é descrito em detalhes:
E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos debaixo de seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e afinal desabou para o lado, exânime, inerte.
RELEMBRE ALGUNS PERSONAGENS:
João Romão: português dono do cortiço, da venda e da pedreira. Era avarento, muquirana, dormia sobre o balcão da venda, seu travesseiro era um saco de estopa. Poupava tudo na Caixa Econômica. Usava manga de camisas e tamancos sem meias. Era intrigado com Miranda, seu vizinho, porque tinha inveja do seu título de barão e de seu conforto. Enriqueceu por meios desonestos. Roubava no preço e no peso das mercadorias, alugava casinhas com tinta ainda fresca, o cortiço fora construído com materiais das construções alheias que roubava à noite.
Bertoleza: cafuza, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora. Foi enganada por João Romão que forjou uma falsa carta de alforria. A partir daí, tornou-se “caixeiro”, “criada” e “amante” de João Romão.
Miranda: mudou-se para o sobrado para afastar a mulher de seus caixeiros, com os quais ela o traía. Era negociante de fazendas por atacado, intrigou-se com Romão porque este negou-lhe a venda de alguns palmos de terreno. Também tinha inveja dele por causa do seu enriquecimento. Não sabia se Zulmira era sua filha de fato. Era casado com Estela pelo dote. Sua relação com Estela era de ódio, traição e dependência financeira. O sexo era um delito, de noite se amavam como animais.
Estela: mulher de Miranda, “senhora pretenciosa e com fumaças de nobreza”. Traía o marido com seus caixeiros e também com Henrique, morador de sua casa.
Zulmira: filha de Estela, “representava o ludíbrio materno”. Tinha 13 anos.
Albino: sujeito efeminado, lavadeiro.
Leocádia: lavadeira que trai o marido Bruno com Henrique para engravidar e se alugar como ama de leite.
Jerônimo: português casado com Piedade de Jesus. Um homem honesto, trabalhador, religioso, mas que sofre uma mudança total quando vai morar no cortiço. Lá, apaixona-se por Rita Baiana e em nome dessa atração, mata o namorado dela, o capoeirista Firmo, abandona a esposa e a filha e muda seu estilo de vida, que passa a ser moralmente decaído.
Rita Baiana: lavadeira, namorada de Firmo que seduz Jerônimo e o ensina a fumar e a beber.
Piedade: a esposa abandonada por Jerônimo, desamparada, torna-se prostituta. Sua filha, é aliciada por Pombinha na prostituição.
Pombinha: “Flor do cortiço”. Noiva de Costa. Ainda não tinha menstruado, por isso não podia se casar. Sua madrinha, a prostituta francesa Leonni, a deflorou. Pombinha não queria, mas depois disso tornou-se lésbica e prostituta.
O final de João Romão e de O cortiço:
Depois que o cortiço sofre um incêndio, João Romão recebe o seguro e se torna mais rico ainda, principalmente, porque ele também rouba muito dinheiro de um dos inquilinos. Ele muda de hábitos, começa a se vestir bem, a cuidar de si. Seu objetivo é se casar com Zulmira, a filha de seu inimigo Miranda, para se tornar mais rico e ingressar na nas rodas sociais. Miranda, por seu turno, esquece as desavenças e concede a mão de sua filha pelo interesse no poder aquisitivo de Romão. Mas existe um problema: como João Romão iria se livrar de Bertoleza, a negra que era sua empregada e sua amante? Pensando nisso, ele traz, um dia o antigo dono da negra para vir buscá-la. Quando ela descobre que não era alforriada e vê o filho de seu antigo dono, toma uma atitude drástica: se mata com a faca com a qual estava descamando o peixe. No exato momento de sua morte, chega uma comissão de abolicionistas para conceder a João Romão o título de sócio benemérito. E o livro encerra com essa ironia.
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